Quadrilha
A origem das quadrilhas
As quadrilhas surgem da vontade que os serviçais das famílias abastadas, fossem eles livres ou escravizados, tinham de imitar os bailes que seus senhores promoviam, em especial nas grandes fazendas cafeeiras da região. A elite escravocrata brasileira, em especial após a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808 e a chegada da Missão Francesa ao país em 1816, buscava imitar os hábitos da sociedade francesa, considerada a mais “avançada” e moderna da Europa.
Após os bailes da elite, os serviçais reuniam-se para imitar as danças “francesas” praticadas por seus senhores. Neste processo de imitação-recriação, surgem dos bailes populares: as quadrilhas, que vão aos poucos ganhado características “caipiras” não mais como tentativa de imitação, mas agora como crítica à decadente elite brasileira. Nesse aspectos passos franceses vão sendo abrasileirados, o luxo das vestes da elite vai ganhando rasgos e remendos propositais e as músicas das orquestras é substituída pela música mais popular como o forró.
O abrasileiramento dos bailes populares vai aos poucos se inserindo nas festividades católicas, em especial dos santos juninos, com destaque para São João, se transformando na principal atraçaõ desses festejos.
Em Cachoeiro de Itapemirim, muitos são os grupos ligados diretamente às comunidades católicas e também a algumas escolas que se organizam exclusivamente para os festejos juninos, entretanto, hoje existem 3 grupos permanentes: Quadrilha Tsunami do Boa Vista, do Bairro Boa Vista, Quadrilha da Comunidade Santa Bárbara do Bairro Gilson Caroni e Quadrilha do Bairro Monte Belo.
O grupo de quadrilha Tsunami do Boa Vista, foi criado em 2000 por um grupo de jovens ligado à igreja Católica no intuito de realizar apresentações nas festividades juninas e julinas da comunidade. Originalmente o grupo começava a se reunir para ensaiar logo após a quaresma, e sua apresentação acontecia no arraiá promovido pela igreja do bairro. Para os participantes era uma maneira de reunir a “galera” e se divertir. Com o passar dos anos o grupo foi crescendo e ganhando novas formações, passando a se apresentar durante todo em vários municípios vizinhos, em especial nos concursos de quadrilhas da região.
Atualmente, embora o grupo ainda tenha uma vinculação do o grupo de jovens da comunidade católica, ele já goza de autonomia na sua gestão e na manutenção de ensaios e apresentações durante todo o ano.
O grupo de quadrilha é formado por diversos personagens que contam a história de um casamento do interior onde o noivo é obrigado a casar-se com sua noiva que está grávida. No auto cada personagem tem um papel definido na trama:
Atualmente o grupo é composto por 14 a 16 casais que são os responsáveis pela apresentação, entretanto este número pode aumentar de acordo com o interesse das pessoas da comunidade em participar das apresentações. Outras 10 a 15 pessoas também participam do grupo em sua organização durante as apresentações. Embora elas não se apresentem, são fundamentais para a organização do grupo.
A música
Embora comemorem o São João e muitos grupos tenham vinculação com comunidade católicas, eles não possuem o aspecto devocional tradicional. Trata-se apenas de um divertimento praticado por jovens das comunidades da cidade, que não tem necessariamente uma devoção a São João. Entretanto tanto no início dos ensaios como das apresentações o grupo faz a oração do Pai Nosso.
Não existem músicas específicas produzidas pelas quadrilhas, uma vez que são utilizadas músicas cantadas por forrozeiros da preferência dos integrantes do grupo, normalmente bandas nordestinas.
A dança
A dança da quadrilha é passada de geração à geração pela tradição oral através dos ensaios que antecedem as apresentações. Diferentemente dos grupos nordestinos que se profissionalizaram em suas apresentações os grupos de Cachoeiro ainda se mantém na tradição do simples baile caipira com a representação do casamento durante a apresentação.
A influência dos passos e da língua francesa pode ser observada nos principais passos das quadrilhas:
É o mestre de cerimônias, o puxador da quadrilha, que com seu apito juntamente com gestos rápidos e precisos, dá todos os comandos que costumam variar de acordo com o ritmo da música que está sendo tocada. Também dependendo do ritmo da música, os passos podem ser mais rápidos ou lentos.
A festa
Sendo originalmente um grupo vinculado a uma comunidade católica, o Tsunami do Boa Visa organiza um arraiá em sua comunidade em parceria com a igreja sempre no mês de junho, entretanto o calendário mais intenso de apresentações inicia em 13 de maio, seguindo até o mês de agosto.
Talvez os momentos mais importantes do que os das apresentações oficiais do grupo, sejam os ensaios que acontecem nas ruas do bairro, que se transformaram em um momento de confraternização e diversão de toda a comunidade. Eles começam logo após o período de quaresma e se estendem até a véspera da última apresentação do ano.
A indumentária
Os personagens mais importantes da quadrilha vestem trajes específicos que os diferenciam dos demais integrantes do grupo:
O mestre
Mesmo a quadrilha não sendo um grupo com fortes aspectos devocionais, como os demais grupos associados, a figura do mestre, que faz o papel do puxador da quadrilha, é de suma importância na organização do grupo. É o mestre quadrilheiro que é o responsável pela marcação dos ensaios, pelo aceite dos convite e pela organização das apresentações. Durante as apresentações é ele que com seu apito e gestuais característicos que comanda a performance do grupo.
No grupo Tsunami as “obrigações” do mestre são divididas por uma equipe de coordenação onde cada pessoa tem uma função definida.
As informações sobre a quadrilha aqui transcritas nos foram passadas por Emerson da Silva Costa, coordenador geral do grupo, Flávio Ramos da Silva, mestre de cerimônias, animador, puxador do grupo, Alexandro Gomes e José Luiz Cândido, coordenadores financeiros da quadrilha Tsunami do Boa Vista.
Lista dos grupos de Quadrilha