Nestor Girardi

Mestre de Folia de Reis

 “Folia é uma fé, devoção. De Folia não há quem não goste”

 Assim como muitos outros descendentes de italiano em todo o sul do estado, Nestor Girardi nasceu numa data, mas o registro de nascimento foi feito em outra. O nascimento foi em 13 de agosto de 1945, mas na certidão consta 23 de setembro do mesmo ano, na localidade de Santa Luzia, próximo ao distrito de São vicente, interior de Cachoeiro de Itapemirim.

Essa é só mais uma das muitas histórias que gosta de contar. Falante e vivaz, “Seu” Nestor diz que nasceu e viveu toda a existência no mesmo lugar, entre morros cobertos por cafezais. Agricultor, aprendeu também o ofício de pedreiro. Revela com orgulho que ergueu a própria casa no pátio do antigo engenho de cana de açúcar do avô.

Tem quatro filhos e quatro netos.  E a esperança de que algum deles se interesse pelo folguedo. Bisneto de folião, desde menino acompanhava a Folia de Reis de São Vicente, formada por moradores de várias localidades próximas, sendo a maioria da própria família Girardi.

A Folia cumpria todos os anos o ciclo natalino- entre 24 de dezembro e 6 de janeiro, e estendia a jornada até o dia 20 de janeiro, Dia de São Sebastião, quando fazia a entrega da bandeira na igreja da comunidade. Tudo o que era arrecadado era destinado para a igreja.

“A base daquela Folia era Girardi. Era uma festa com muita cantoria e diversão. Durante a semana a peregrinação ia até a meia-noite porque a gente tinha que trabalhar no dia seguinte, mas nos finais de semana a gente varava a madrugada. E como chamava gente”, relata saudoso dos velhos tempos. Há cerca de dois anos, contudo, o grupo não saiu mais. “O pessoal desanimou”, explica.

“Seu” Nestor sonha em reativar a Folia no próximo ciclo natalino. Aos 67 anos, garante ter energia e disposição para uma nova jornada. Mestre há quase 30, ensina que “a Folia é puxada no batuque da caixa”. Daí a importância de ter no grupo alguém que saiba tocar o instrumento.

Nestor admite, entretanto, que a principal dificuldade para retomar as atividades  é motivar os antigos integrantes e também atrair jovens foliões para o folguedo. “Hoje tem muita distração. A pessoa não quer mais compromisso”, lamenta.

Ser mestre, na sua definição, é ter liderança para manter a disciplina do grupo, para manter na linha principalmente aqueles que não resistem a uma “boa pinga”. E argumenta: “Não dá para entrar na casa dos outros com gente embriagada. Tem de ter respeito”.

Ele diz que Folia significa um ensinamento, uma diversão. E também uma forma de se relacionar com a comunidade. “É uma tradição que não pode terminar”, enfatiza.  Bom contador de histórias, demonstra entusiasmo quando encontra um interlocutor disposto a ouvir seus “causos”. Enreda as histórias sempre com um sorriso largo. “Folia é uma fé, uma devoção. De Folia não há quem não goste”, decreta.


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