Caxambu da Velha Rita – Zumbi
Ano de fundação: 1979
O caxambu é uma prática cultural e religiosa que acontece no Brasil desde o “tempo do cativeiro”, em especial nas fazendas cafeeiras da região Sudeste. Em Cachoeiro de Itapemirim ainda existem 3 grupos em atividade: o de Vargem Alegre, o de Monte Alegre o do Zumbi. Entretanto, há pouco mais de duas décadas existiam outros dois grupos: o da Praça da Bandeira e o que era comandado pelo falecido Mestre Salatiel.
De todos os grupos atualmente registrados como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, o Caxambu da Velha Rita é o único que possui características completamente diferentes dos demais: trata-se de um caxambu espiritual, comandado pela Velha Rita, entidade que anda junto com Niecina Ferreira de Paula Silva, a Dona Isolina, desde o ano de 1972, quando ela ainda tinha 17 anos de idade.
Todo o dia 13 de maio, Dia da Abolição da Escravidão, a Velha Rita chega para comandar a roda de caxambu. Porém o Raiar da Liberdade comandado pela Velha Rita só recebeu o toque dos tambores a partir do ano de 1979, sendo que também foi nesse mesmo ano que a tradicional feijoada começou a ser servida.
Trata-se, nas palavras de Dona Isolina, de um grupo “espiritual para material”, pois ele tradicionalmente era feito apenas pelos pretos velhos, que chegam no dia 13 de maio, mas que também que começou a ser realizado por integrantes de sua Casa de Oração, em especial após 2009, quando o grupo foi certificado pelo IPHAN como Patrimônio Nacional.
O caxambu chegou ao Brasil com os antepassados africanos. “Quem traz na memória os jongos é o dono do tambor”. No Zumbi, a dona é a Velha Rita, e a feijoada servida após a roda é o ponto alto da festa! “Normalmente as pessoas têm muito medo do caxambu porque o identificam com a macumba, algo que faz mal para o povo. Ledo engano! Caxambu é tradição, é movimento, é o toque do tambor, é música, e a música mora comigo”, destaca Dona Isolina. O caxambu faz recordar como os negros foram maltratados por seus senhores brancos nos quase quatrocentos anos de escravidão no Brasil. Como essa violência ainda não acabou, é preciso manter viva essa tradição, porque a luta pela igualdade racial ainda precisa continuar.
Texto produzido a partir de entrevista concedida por Niecina Ferreira de Paula Silva, Dona Isolina, a Genildo Coelho Hautequestt Filho, em novembro de 2023 e em janeiro de 2024.