Adílio Quirino da Silva

Mestre de Charola de São Sebastião e Bate Flechas de São Sebastião

“É a fé que nos mantém no caminho reto”

Sereno e cauteloso, Adílio Quirino da Silva reflete bem antes de falar. O cuidado se justifica pelo temor da discriminação. Nascido em 22 de abril de 1946, na região do Caparaó, faz parte de uma família que mantém uma casa de oração da denominação “Espírita Esoterista”, cujo líder é o irmão Izaías.

“Antes havia perseguição, intolerância. Hoje felizmente tem mais liberdade”, diz, referindo-se à prática espiritual que é tradição na família. Adílio acredita que “a palavra divina não é só discurso,  precisa ser vivenciada” e que “todos os caminhos convergem para Deus”.

Já foi palhaço de Folia de Reis e há mais de 30 anos é contramestre e guardião do conhecimento sobre a única Charola em atividade no Espírito Santo, grupo que só sai durante o dia, entre o período de 6 a 20 de janeiro, dia de São Sebastião. Aos nove anos iniciou seu aprendizado sobre a Charola de São Sebastião, acompanhando o pai Manoel Quirino da Silva e os irmãos nos trabalhos da casa de oração que era comandada por ele, e também nas peregrinações que o grupo fazia.

Em 2010 Adílio foi certificado pela Lei Mestre João Inácio como Patrimônio Vivo de Cachoeiro. E em 2012 recebeu o Prêmio Mestre Armojo do Folclore Capixaba, concedido pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult).

Ele conta que nasceu e viveu “embalado na toada” e aposta na continuidade da tradição de família. O filho Alexandre, o caçula, já é contramestre. Mas não esconde a preocupação com a possibilidade de que os conhecimentos se percam pela falta de interesse da maioria dos mais jovens. “Antes as pessoas tinham mais compromisso. Hoje não tem mais isso”, analisa.

Adílio diz que com a atuação na Charola tem obtido muita graça e misericórdia para si e para os outros. E aponta a fé como o verdadeiro sentido para a vida. “É a fé que nos mantém no caminho reto. Se perder  a fé do caminho de Deus, naufraga”, sentencia.

Para o lavrador aposentado, que mal frequentou a escola, a missão do mestre é de grande responsabilidade. “Ele é o guia. Ele que tem de ensinar, andar seguro e certo para levar os discípulos na linha. Se eu andar tortuoso, eles vão andar também”. Entre seus ensinamentos está o de que é preciso cuidado com as palavras.

Adílio ensina que é preciso conter o impulso de falar demais porque não se tem controle sobre a palavra proferida. “Tem de ter um freio ajustado na boca”, aconselha.


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