Izaías Quirino da Silva

Mestre de Charola de São Sebastião e Bate Flechas de São Sebastião

“O mestre tem  que saber falar, mas não é tudo que pode ser dito”

 Bom orador, Izaías Quirino da Silva tem uma pregação envolvente e um conhecimento profundo das profecias bíblicas. Mas até desvendar a missão  para a qual  acredita ter sido destinado, a de pregar a palavra de Deus, conta  que  viveu dias de intensa  angústia, solidão e desespero. “A sabedoria não é humana. Vem de outro plano”, garante.

Nascido em 12 de novembro de 1954, em Alto Lambari, município de Alegre, Izaías  vem de família numerosa. Nove irmãos ao todo, unidos sob os ensinamentos do pai  Manoel Quirino da Silva, conhecido líder espiritual na região. Desde criança envolveu-se no Bate Flechas, mas relutou até aceitar que o viés religioso é o que dá sentido à manifestação.

Tanto a Charola como o Bate Flechas têm forte componente ritualístico. “Não é diversão e nem exibição. A Charola e o Bate Flechas pertencem à nossa missão que é espiritual, de levar coragem, paz e amor ao coração das pessoas”, afirma. Izaías é o diretor do Centro Espírita da denominação Esoterista, que funciona há quase 30 anos na localidade de Alto Paulista, em Burarama.

“Todos somos instrumentos. Todos nós temos uma missão com Deus. Uns de fazer bons prodígios, outros não”, sentencia.  Ele conta que bem jovem gostava do Bate Flechas, da Charola, mas não tinha consciência da importância de ambos para a conexão com o plano divino. “Achava o trabalho espiritual sem significado, uma ilusão”, confessa.

Entre os 18 e 21 anos morou no Rio de Janeiro, tinha um bom emprego,  mas vivia angustiado. De volta ao lugar de origem, a sensação de desconforto permaneceu. Tinha insônias terríveis, ouvia vozes, sofria de alucinações. “Havia dias em que me sentia muito perturbado e sofria com isso”.  Pelas mãos da esposa foi levado ao Centro Espírita, mas demorou a aceitar. Sequer entrou no local.

A angústia continuava a afligi-lo. O sofrimento era tamanho que chegou a pensar em suicídio. Izaías se emociona ao se lembrar desses tempos. E da maneira como se livrou de tanta dor e aflição. Foram sucessivas visões e revelações que o levaram  a assumir o trabalho espiritual, uma tradição da família. Numa delas, segundo relata, teria testemunhado a transfiguração do próprio Jesus Cristo que o tomou pela mão, “formando uma corrente de luz até o infinito”. Ele tinha 23 anos na época.

Com o coração apaziguado desde então, dedica-se a  dirigir a casa de oração e a comandar o Bate Flechas e a Charola, juntamente com os irmãos Adílio e Rufino.  Em 2010 foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Cachoeiro. Também em 2010 o Bate Flechas de São Sebastião ganhou o Prêmio Renato Pacheco, da Secult e em 2011 o Prêmio Mestre Armojo do Folclore Capixaba. Em 2012 foi produzido o  documentário “Filhos da Fé: Alto Paulista de São Sebastião”  sobre a Charola, financiado pela Secult e Associação de Folclore.

Pai de seis filhas, diz que somente Deus sabe qual delas será a escolhida para dar seguimento à missão espiritual da família. Embora tenha pouca instrução formal, o lavrador se declara um leitor assíduo da bíblia. “O mestre é o líder, tem que ter conhecimento, dom e saber exercer a função. Tem que  saber falar, mas não é tudo que pode ser dito”, ensina.


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