José Paulino da Silva (Zé Palhaço)

Mestre de Folia de Reis

“Fiz uma promessa sem vencimento para os Santos Reis. Só paro quando morrer”

José Paulino da Silva, o Zé Palhaço, como o próprio nome sugere exerceu a função de palhaço em Folias de Reis a maior parte da vida. Atualmente é mestre da Folia Santa Ana, do bairro Zumbi, onde mora há mais de 40 anos. Nasceu em 26 de fevereiro de 1944, na localidade de São Luís, em Muqui, e morou até a adolescência em São José das Torres, em Mimoso do Sul, onde a tradição das Folias está incorporada ao cotidiano dos moradores.

Lavrador e com pouca escolaridade, construiu o conhecimento a partir do que ouviu contar. Tem um jeito peculiar de descrever os “fatos bíblicos” e o mistério que cerca o universo dos palhaços. Gesticula de maneira teatral e alterna o tom de voz e as expressões faciais, entre o contrito e o risonho, de forma a envolver o interlocutor. Simpático e falante, é capaz de emendar um “causo” no outro, diluindo as fronteiras entre tempo, espaço, verdade e fantasia.

Revela,  por exemplo, que tinha medo de palhaço na infância. E que sua devoção aos “Santos Reis” surgiu no dia em que, ainda menino, viu a imagem numa Folia no interior de Muqui. Anos mais tarde, o filho adoeceu e fez então uma promessa aos santos de devoção para obter a cura da doença. Graça concedida, desde então passou a sair em Folias, tendo percorrido todo o Sul do Estado.

A primeira promessa como palhaço, entretanto, foi feita aos 36 anos de idade, no Natal de 1980, quando começou a jornada na Folia de Reis Estrela do Mar, sob o comando do Mestre João Inácio. Logo depois passou a cumprir a jornada no grupo de Jorge Carias. Em 1985 conheceu sua atual esposa, Eliana Azarias Carias, que era bandeireira da Folia do tio.

“A pessoa que é devota tem de sair os sete anos”, ensina sobre a missão do palhaço. E acrescenta que se não cumprir, passa a ser perseguida. Por quem? “Pelo coisa ruim”, responde ligeiro com uma expressão grave. Nas Folias, os palhaços têm a função de “distrair os perseguidores do Menino Jesus”, explica.

E o que precisa para ser um bom palhaço? Além da “cara de pau”, tem de saber trovar e ter respeito, responde simpático, acrescentando que deve andar sempre atrás da bandeira e jamais brincar sozinho. Com quase 70 anos, Zé Palhaço ainda mantém a agilidade da juventude e é capaz de declamar um amplo repertório de versos à menor provocação.

Com o falecimento do Mestre Jorge, Zé Palhaço passou a cumprir sua promessa em outros grupos da região. Cumpriu jornada em diversas Folias em municípios vizinhos, sempre na companhia da esposa bandeireira. De volta ao Zumbi, saiu por dois anos na Estrela do Mar. Mas graças ao desejo de Eliana, decidiu levantar a própria bandeira em honra a Santa Ana. Em 2011 ganhou o Prêmio Mestre do Folclore Capixaba, concedido pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult).

Ele conta com orgulho que em 2006 a esposa, sem revelar a ninguém, costurou e enfeitou uma bandeira em honra a Santa Ana. Mas a manteve guardada. Um dia, ao receber a visita de João Inácio, ela decidiu mostrar a bandeira. Ele não só aprovou a ideia de criar um novo grupo, como incentivou doando a vestimenta. Zé Palhaço fez então uma nova promessa aos “Santos Reis”, mas desta vez sem vencimento. “Só paro quando morrer”.


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