Luzia Caetano (in memoriam)

Mestra de Caxambu

“Santo Antônio forma barulho, São João vem guerrear…”

O chocalho era sua companhia inseparável. Estava sempre à mão. Na primeira oportunidade, sacava o instrumento e passava a tocar com tanto entusiasmo que sua alegria era capaz de contagiar quem estivesse por perto. Era uma das mulheres fortes da Família Caetano, de Vargem Alegre, e a mais animada nas rodas de Caxambu.

“Adorava festa. Estava sempre dançando e cantando”,  pontua a irmã Canutinha, ainda sob o impacto da morte de Luzia, aos 66 anos, em meados deste ano. Contam os parentes que Luzia descobriu o chocalho aos vinte e poucos anos. E não se separou mais do instrumento. Era uma espécie de talismã para espantar a tristeza e garantir alegria.

Festeira e vaidosa, jamais se casou. Não quis abrir mão da independência e da autonomia.“Desde criança ela cuidava das próprias roupas, sabia o que queria”, diz Canutinha que, assim como o restante da família, compreendia e relevava até os frequentes atrasos e por vezes o jeito meio atrapalhado da irmã. “Não tinha jeito, ela sempre se atrasava. Mas no final dava tudo certo”.

Ainda menina Luzia deixou a casa da família, em Vargem Alegre, para trabalhar em fazendas da região. Destino muito comum a outras jovens de famílias pobres na época. A necessidade de trabalhar afastava para sempre as crianças da escola. “A vida inteira ela trabalhou muito, mas nem por isso reclamava. Estava sempre de alto astral”, enfatiza a irmã.

Das mulheres da família Caetano, Luzia foi a única a herdar da mãe o ofício de rezadeira, vinculado à prática da Umbanda. E o exercia com dedicação e maestria. Mantinha na própria casa, em Cachoeiro, uma mesa para atendimento. Esse saber, ela levou com ela.

Excelente cozinheira, sempre foi o “braço direito” de Canutinha nas festas de Vargem Alegre onde a comida é farta e a alegria também. Apaixonada por crianças, era ela quem organizava a festa anual de 12 de outubro.

Mesmo morando em Cachoeiro, cuidava de manter os laços com a familia. Não perdia uma roda de Caxambu. O chocalho inseparável sempre na bolsa. “Quando tocava, ela era o centro das atenções”, diverte-se Canutinha. A mestra jongueira Luzia personificava como ninguém a denominação do Caxambu que a família preserva: “Alegria de Viver”.

Esse era um dos seus jongos prediletos:

“Mineiro quando vai embora

não avisa pra ninguém,

Ô mineiro não perde a hora,

Ô mineiro não perde o trem”


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