Terezinha de Jesus de Oliveira Francisco
Mestra de Bate Flechas de São Sebastião
“Enquanto Deus me determinar, vou cumprir minha missão”
A artesã Terezinha de Jesus Oliveira Francisco nasceu em Arraial do Café, município de Alegre, há 56 nos. Mora em Cachoeiro desde menina, sempre no bairro Zumbi. Há quase 30 anos mantém a casa de oração “Centro Espírita de São Jorge”, onde atende pessoas em busca de conforto espiritual.
Mestra do grupo de Bate Flechas São Sebastião do Zumbi, ela conta que na juventude tinha aversão ao trabalho espiritual. E resistiu o quanto pôde, até se render à missão que o próprio avô profetizara, quando ela tinha por volta de seis anos de idade. “Um dia ele olhou para mim e disse que eu teria uma missão a cumprir. Só pude compreender isso bem mais tarde”.
Altiva, serena e articulada, Terezinha atribui seu equilíbrio à obediência de princípios que considera definitivos, como o respeito ao próximo, e à aceitação do desafio exercer uma liderança espiritual. Ela revela que as primeiras manifestações de mediunidade aconteceram na adolescência, por volta dos 14 anos.
“Fiquei assustada e resisti. Não queria me envolver com forças ruins. Decidi que só aceitaria se fosse para fazer o bem. E tem sido assim nesses anos todos”. No começo ela atendia em centros de outras pessoas. Em 1986 o marido Jovaldino Francisco sugeriu que abrisse um quarto de oração na própria casa.
A missão a que Terezinha se refere está diretamente ligada ao Bate Flechas, folguedo cuja ritualística está associada a um contexto religioso e que tem na dança um de seus principais componentes. O Bate Flechas louva São Sebastião. Mas cada grupo incorpora homenagens a outros santos, em especial à Nossa Senhora Aparecida, de quem a artesã é devota.
Terezinha participa de Bate Flechas há muitos anos, mas só recentemente montou o próprio grupo. E é exigente. “Gosto de tudo muito bem organizado”, frisa. Antes de liderar o Bate Flechas de São Sebastião, contribuiu para o resgate da tradição da Dança de Fitas, cuja apresentação é feita mais comumente no mês de junho.
Ciente da responsabilidade que tem diante da comunidade, Terezinha afirma que sua vida seria muito difícil caso não cedesse à profecia do avô. “Talvez nem estivesse viva”, pondera. Acolhedora, diz que se a pessoa bater em sua porta pedindo oração para a família, será atendida. Mas caso não demonstre respeito, manda seguir em frente. “Enquanto Deus me determinar, vou cumprir minha missão”.
Sobre a função do mestre, compara com o cuidado em relação à própria casa. “É preciso disciplina e autoridade”. E assinala que tem fé incondicional na força do livre arbítrio. “Aquilo que é bom Deus já colocou no nosso caminho. Basta escolher. O que não queremos para a gente, não devemos fazer para os outros”, ensina.