Wilson Diniz Cecon
Mestre de Folia de Reis
“Mestre de Folia de Reis tem que saber cantar as profecias”
Aos 23 anos, Wilson Diniz Cecon é o mais jovem mestre de Folia de Reis do Espírito Santo. Começou no folguedo aos 10, “brincando” de Folia junto com outras crianças do distrito de Burarama, onde morava. Aos 15 tornou-se mestre da Folia Missão Divina, hoje formada por jovens que ajudam a manter viva a tradição.
A Missão Divina foi fundada com apoio do mestre folião Areno Francisco dos Santos, que doou alguns instrumentos usados e ensinou as primeiras profecias. No começo as crianças brincavam tocando latas e caixas de papelão. Em 2006 o grupo cumpriu pela primeira vez o ciclo natalino sozinho, liderado por Wilson.
Depois de dois anos como mestre, ele descobriu que sua avó materna e principal incentivadora, Maria do Carmo Diniz, a Dona Carminha, estava muito doente. Fez então a promessa de que completaria sete anos à frente da Folia caso a avó se curasse. Ela não se curou do câncer, mas em vez de desistir da promessa, ainda não cumprida na ocasião, Wilson decidiu seguir na missão de mestre e manter o compromisso com os “Santos Reis” em homenagem à memória da avó.
Mesmo no começo, quando tudo era mais uma brincadeira, Dona Carminha exigia das crianças compromisso e responsabilidade. Mas fazia isso de forma terna, incentivando o crescimento dos foliões. Ela era neta do também já falecido Mestre Hipólito, um dos mais importantes da região. A Folia Missão Divina é hoje reconhecida e respeitada não só em Burarama, mas em todo o município e até fora de Cachoeiro.
Tímido, Wilson conta que nunca gostou de “cantar de mestre”. Mas como se mostrou um discípulo dedicado no aprendizado das profecias, se sentiu chamado à responsabilidade e aceitou a missão. Em 2011 foi reconhecido como Patrimônio Vivo de Cachoeiro, mesmo sendo tão jovem.
Ele diz que o mestre tem que saber liderar, saber chamar a atenção dos foliões para manter a disciplina e ter conhecimento das profecias, o que exige empenho e dedicação. No seu grupo, formado essencialmente por jovens, o desafio de mantê-los motivados e comprometidos é ainda maior. “Aprendi com Mestre Areno a ser exigente, a ler a bíblia para conhecer as profecias. Sou rigoroso, mas sei ser humilde”, pondera.
Intuitivo, Wilson aprende muito por observação. Apesar da pouca idade, demonstra firmeza no propósito de honrar as tradições. “Não se pode desviar do caminho. O preço é alto”, reflete. Durante o ciclo natalino, ele não bebe e se mantém “em preceito”, o que significa não ter relações sexuais. Hoje promove oficinas onde ensina às crianças de Burarama os primeiros passos no folguedo.
O compromisso com a Folia de Reis não é o único com caráter de missão na vida desse jovem. Ele concilia a fé nos “Santos Reis” com a vivência na Umbanda, uma tradição da família que mantém no interior de Burarama o Centro Imaculada Conceição e São Jorge Guerreiro, dos mais antigos do Sul do Estado, com registros da década de 1930.
Lá Wilson é Ogã. A palavra Ogã vem do Yorubá e significa Senhor da Minha Casa. O Ogã é o médium responsável pelo canto e pelo toque (no atabaque). Para exercer tal função é preciso ser bem preparado e coroado ou iniciado. A quem questiona a mistura de tradição católica com Umbanda, ele responde sem titubear: “Deus é único”. E acrescenta que é essa convivência que lhe dá força, escudo e proteção.